De hoje e até sexta-feira, RM/Sotheby’s leiloa o mais brasileiro dos Spyder criado por Scaglietti.
O chassis 0738 do Ferrari 250 Testa Rossa – um dos 19 exemplares fabricados com a frente “Pontoon Fender”, criada pelo carroçador Sergio Scaglietti – começa hoje a ser leiloado em Detroit. É uma “venda fechada”, promovida pela RM/Sotheby’s, que fará mudar de mãos o mais brasileiro dos Ferrari de corrida dos anos 50.
Encomendado por Carlos Kauffman, venezuelano de Caracas, à data o concessionário da Ferrari para a América Central e do Sul, foi construído para ser entregue em São Paulo, ao empresário e piloto brasileiro Jean-Louis Lacerda Soares.
Lacerda Soares criara a Escuderia Lagartixa (antes de revelar o seu nome, o empresário corria com o pseudónimo “Lagartixa”), que também fazia alinhar Luciano Della Porta e Chico Landi, sendo que foi este último quem conduziu o Testa Rossa na estreia nas pistas, a 22 de Junho de 1958, em Interlagos.
Em 1962, quando Lacerda Soares se retirou das pistas, vendeu – “por dois mil dólares, hoje equivalentes a 14 mil dólares”, escreveria em 2011 – o que sobrava do 0738.
A carroçaria já não era “Pontoon Fendered”, expressão que Lacerda Soares traduziu da seguinte forma: “O nome Pontoon Fender vinha dos pára-lamas dianteiros criados por Scaglietti, salientes como flutuadores de um hidroavião”.
Para se tornar mais “moderno”, ao estilo de 1959, mudaram-lhe a frente, mas também algumas componentes mecânicos, como foi o caso da suspensão traseira, que, a pedido do piloto, passou a ser uma De Dion.
Destruído em Interlagos, em 1962, foi reconstruído entre 1963 e 1964, pela mão de Piero Drogo – o criador da célebre Breadvan –, que lhe deu a forma de um 250 GT Berlinetta.
Regressou, com essa forma, às pistas brasileiras, onde continuou a correr até 1967. Manteve-se no Brasil até 1975, na garagem de Camillo Christófaro, que acabou por o vender, em 1985, para o Reino Unido.
Mudando de mãos mais duas vezes, o segundo destes proprietários (o britânico Paul Vestey) confiou-o aos cuidados da DK Engineering, que em 1989 lhe devolveu a forma original, pintando-o em amarelo, com o nariz verde, em homenagem às suas “origens” brasileiras.
Colocado à venda em 1995 e depois no ano seguinte – primeiro por 3,5 milhões, depois por 2,6… – em 1997 foi comprado, por valor não conhecido, pelo brasileiro Carlos Monteverde, que com ele participou em inúmeros eventos reservados a Clássicos.
Em 2010 foi levado a leilão, pela RM, em Monterey. Recebeu como maior oferta 10 milhões e 700 mil dólares, montante que não chegou para ser vendido, pois tinha 12 milhões de dólares com valor de reserva.
Mais uma vez, sem se saber por que preço, acabou por ser vendido ao norte-americano Leslie Wexner, já depois de ter sido completamente restaurado pela Ferrari Classiche, que o devolveu à forma original.
É assim que se encontra hoje aquele a quem a RM (em 2010 e agora) chama de “um dos mais belos automóveis de todos os tempos”.
Está a ser leiloado sem que tenha um preço oficialmente estimado, mas diversas fontes dizem que deverá chegar, no mínimo, aos 34 milhões de dólares, valor que até deverá ser inferior aos Testa Rossa de 1957, nunca restaurado, que foi comprado há semanas pelo norte-americano Chris MacAllister, numa transacção particular.
Foto: RM/Sotheby’s
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